Sabem daquelas recordações que, de vez em quando, resgatamos do nosso sotão de memórias e em que nos emocionamos de uma forma indescritível?! Daquelas que nos provocam um arrepio na espinha e em que sentimos vida nova a correr dentro de nós? Eu tenho muitas dessas e resgato-as frequentemente. Não sei se isso é ser nostálgico, se é saudade, não sei... Talvez o possa simplesmente descrever como o momento em que fomos felizes, na sua forma mais pura, simples e inocente ou como pequenos recortes da nossa existência que nos dão o oxigénio - essencial - para a batalha diária que são as nossas banais rotinas, monótonas vidas.
Em 1988 o mundo viu nascer mais uma obra perfeita, obra esta que se poderá comparar com uma Mona Lisa, uma Torre Eiffel, um Guggenheim ou até mesmo uma ida à Lua. A escultura musical, feita de ferro intemporal, daquele que não corrói com o tempo e adversidade, chama-se "Thundersteel" e os seus autores, os norte-americanos RIOT.
Eu ouvi o tema-título "Thundersteel" pela primeira vez no saudoso Rock Em Stock, emitido na Rádio Comercial de segunda a sexta-feira e apresentado pelo Luís Filipe Barros. Entre outros temas marcantes de várias bandas, não sei porquê, mas este destacou-se de uma forma especial. Era diferente? Era algo que imaginava ouvir um dia e esse dia tinha chegado? A verdade é que casei-me imediatamente com aquela música e desejava ardentemente amantizar-me com as restantes oito o mais rápido possível. Acho que na altura acabei por ouvir mais um tema (penso que tenha sido o "Sign Of The Crimson Storm") através da rádio, obviamente.
Durante muito tempo vi-me privado de conhecer os restantes temas (todos espectaculares, imaginava eu) e enquanto essa proibição não se desfez - através de tape-trading efectuado com o Tó "Coroner" de Leiria, um bacano que gravava álbuns em cassetes de crómio por um preço razoável face aos preços dos discos, completamente proibitivos e ao alcance de poucos - contentava-me em espreitar as montras dos (igualmente saudosos) centros comerciais dos anos 80 com as suas linhas pragmáticas e paredes brancas e onde a lojinha de música era quase sempre lá ao fundo. E lá ao fundo estava ele, imponente, inalcançável. Aquela capa fazia-me sonhar, literalmente. Poderá não ser nada do outro mundo (para muitos até um pouco tosca) mas aquele desenho e as suas cores eram agradavelmente sufocantes na minha cabeça e só sonhava em poder abraçar aquele disco um dia...
O ajuste de contas foi feito, por circunstâncias várias, longos anos depois. Eu tenho poucos discos, cassetes e CD's, não sou coleccionador de itens físicos. Acho que sempre preferi ouvir e arrumar tudo na minha memória, no meu armazém pessoal de antiguidades. Passaram-se cerca de 20 anos até ao dia em que comprei o "Thundersteel". FINALMENTE!! À semelhança de outros poucos casos de extrema e inexplicável loucura, vulgo MAGIA, caro amigo Mark Reale, esteja onde estiveres, tenho a dizer-te o seguinte: “Tardou mas não falhou!!”
Rui Vieira (Machinergy - voz/guitarra)
Sem comentários:
Enviar um comentário