segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

entrevista: CARLOS FREITAS (Notredame Productions / Side B Lounge Live Club)

As probabilidades de já terem assistido a pelo menos um concerto organizado pelo convidado das próximas páginas são elevadas, uma vez que ele é o responsável pela promotora Notredame Productions, e se ainda não se encontram entre os muitos que já fizeram, pelo menos, uma visita ao espaço gerido por ele, o Side B Lounge Live Club, em Benavente, está no momento do Carlos Freitas vos abrir as portas, mais que não seja para o jogo de perguntas e respostas que se segue!



Conta-nos um pouco do teu percurso até chegares á Notredamme Productions!
Há cerca de 15 anos atrás, fundei alguns projectos musicais, nos quais eu próprio desenvolvia o trabalho de booking! Infelizmente naquela altura eram poucas ou quase nenhumas as oportunidades para tocar ao vivo, não havia muitas casas a receber bandas e concertos, e as poucas que haviam, era difícil lá tocar! Ou eras realmente bom no que fazias, ou tinhas nome, ou tocavas covers, de outra forma era quase impossível, daí, a forma mais fácil de tocar ao vivo, era organizar os nossos próprios concertos…
Entre 1996 e 1999 (altura em que duraram os projectos aos quais tocava), organizei vários concertos, todos eles locais (na zona onde cresci, conselho de Alenquer, Ota, etc), nos quais reunia as bandas também locais da altura, sempre com condições escassas, não tinhamos apoios, tudo à nossa custa, parte dos eventos nem P.A existia, fazíamos a festa apenas com o nosso backline!
Eram outros tempos, em que um “pseudo-festival” local, com cerca de 12 bandas a tocar num só dia, metia mais de 200 pessoas, com inicio a meio da tarde, e só acabava quando as autoridades nos expulsavam do recinto!
Depois dessa época, estive uns tempos afastado do meio, sem bandas, sem produções, etc...
Em 2004, com a abertura de uma casa na Vila de Alenquer (extinto RockHouse), tive um convite e oportunidade para voltar a organizar eventos e fazer parte do booking dessa mesma sala, foi aí que fundei a Notredame Productions, com o intuito de dar oportunidades às bandas da altura, a tocar naquele espaço. Voltei assim a organizar eventos, agora com mais condições, e com bandas conceituadas da nossa praça.
Entretanto, o “bichinho” de organizar, começa-nos a “aquecer”, a “viciar”, e chega-se a um ponto que queremos e precisamos de organizar mais, e mais… (penso que isto acontece com todos os promotores) , resolvi estender as produções para outros locais, comecei a organizar eventos também nas cidades de Caldas da Rainha, S.Martinho do Porto, Vila Franca de Xira, e mais tarde em Lisboa, Linda-a-velha, Corroios, Cacilhas, etc… Aqui já com nomes internacionais.

Como surgiu a ideia de criar a Notredamme productions e a chegada ao Side B bar?
A Notredame Productions, surgiu da forma que anteriormente descrevi… o nome, esse deve-se ao facto de ser o mesmo de um espaço de “culto-privado”, que mantinha na época, um bar privado, apenas para amigos e convidados, cujo o nome era esse mesmo “Notredame Bar”, e surgiu se calhar pelo fascínio que sempre tive por catedrais, obras primas históricas, e a própria Catedral NotreDame, achei que devia dar o mesmo nome à promotora, não me perguntem porquê...
O Side B, basicamente é um sonho realizado, foi algo que sempre sonhei ter, e sonhei fazer… ter uma casa de espectáculos ao vivo…
Surgiu a oportunidade, na altura certa, e no momento certo, mesmo sabendo que era um “suicídio” enorme abrir uma casa de concertos no “fim do mundo”, a necessidade de ter um espaço para organizar os meus próprios eventos era muita, e sem ter sempre o inconveniente de pagar alugueres absurdos, licenças, pessoal etc, etc.. factores que tornavam complicada a hipótese de se organizar um evento sem perder dinheiro! Sempre lutei por um objectivo, por aquilo que gosto e quero, e nunca me dei mal, sabia que mais tarde ou mais cedo iria concretizar este dito sonho, apareceu a oportunidade, e atirei-me de cabeça.


Qual o cartaz que tiveste que te deu mais prazer e orgulho até agora, e porque?
É uma pergunta difícil de responder, visto que tenho orgulho em todos os cartazes que organizei até à data de hoje, desde um pequeno pseudo-festival que fiz em 1996, com 14 bandas locais num só dia, em que duas horas antes da primeira banda subir ao palco, o mesmo não existia, e que entre a ajuda do publico conseguimos improvisar um palco com paletes, madeira e barris de cerveja ou, por exemplo, o concerto de Samael, banda que oiço desde os meus 17 anos, e jamais imaginaria um dia conhecê-los pessoalmente, passar 4 dias a trabalhar com eles... Todo este trabalho, é um prazer e um orgulho de se fazer…

Com todos os fins-de-semana ocupados a orientar eventos, como consegues conciliar com a tua banda?
Na banda em que presto funções actualmente (VS777), a minha participação surgiu de um convite de um grande amigo, o mentor do projecto! Na altura estava sem banda, e com vontade de voltar a tocar, aceitei o convite com muito gosto, não só porque adorava o som da banda, como porque à partida era um projecto que não me iria ocupar muito tempo! Trabalhamos de forma fácil e compatível para todos, visto que todos nós temos vidas pessoais demasiado ocupadas, família, etc.. Faz-se quando dá, não metemos a nossa vida pessoal, profissional à frente do projecto… Para além de que a minha função na banda, não é compor, é mais tocar o que vem sendo feito!

Todos os fins-de-semana tens oportunidade de avaliar como está o público ligado ao metal em Portugal! Na tua opinião, achas está mais apologista de sair para ver concertos e conhecer bandas novas?
Depende! Outra pergunta difícil de responder! Se há coisa que não consigo perceber bem, é o público de hoje em dia, pois temos muitos tipos de público! Existem os que não dão dinheiro para assistir a concertos underground e dão fortunas para alimentar festivais com 80 mil pessoas, outros que apoiam o underground mas só vão ver o estilo que lhes agrada, outros que só vão se for de borla, outros que só vão para apoiar a banda do amigo, e o público do “clic” que só levanta o cú da cadeira do computador para ver o concerto que mais tópicos de conversa tem nos fóruns de música, e um pequeno número de resistentes que só não apoiam mais porque financeiramente não o podem fazer…
Resumindo, hoje em dia há muita oferta, muita banda a querer tocar ao vivo, muitos concertos, muitos estilos, e o público que para além de estar cada vez mais esquisito e exigente, acaba por não chegar a tudo e a todos, mas ainda se conseguem fazer boas salas, depende das bandas em cartaz, e da sorte...

O que gostavas de ver mudado no cenário metaleiro português?
Menos ganância!! Mais união!!!

O Side B comemorou em Setembro o 1º aniversário com os Cryptor Morbious Family e Bizarra Locomotiva no cartaz! Porque escolheste essas bandas para tal comemoração?
Bizarra Locomotiva porque é uma banda que sempre gostei muito, e os seus espectáculos ao vivo são algo digno de se ver e mostrar ao publico, é outra dimensão!
Cryptor Morbious Family, porque acredito na força de vontade enorme de todos eles, de quererem concretizar um objectivo, um sonho... e lutam por isso, insistem, e esse é o caminho certo para quando se quer algo, é com um prazer enorme que dou oportunidades a bandas que querem e lutam para crescer e não aparecerem já crescidas!


Alguma vez tiveste vontade de desistir, ou mesmo depois de uma noite fraca tens a força para pensar que vale sempre a pena lutar pelo metal português?
Lutar pelo metal português, não é propriamente o meu objectivo! Eu luto por mim, é o meu trabalho, vivo disto, embora no trabalho que desenvolvo, acaba por ser útil para as bandas e também para o metal e rock português! Actualmente não trabalho apenas com bandas de metal português, já fizemos bons cartazes de bandas internacionais e muitas coisas dentro do rock!
Infelizmente já tive momentos assim, mas também já tive momentos bons, e a coisa vai-se equilibrando, o lema é insistir, não desistir… acreditar que o próximo correrá melhor, corrigir os erros, aprender, melhorar… se temos oportunidade de o voltar a fazer, porque não arriscar? … é um pouco o que se passa na realidade. ( o tal “bichinho” não nos deixa parar)


De tantas bandas portuguesas com enorme potencial e qualidade que passaram por os teus eventos em 2009, quais foram as que te interessaram mais?
Gosto de muitas bandas portuguesas que por lá passaram, aliás, potencial e qualidade são duas regras indiscutíveis para a contratação de qualquer uma! Foram poucas as bandas que me desiludiram com actuações ao vivo, claro que umas mais que as outras, mas isso já tem um pouco a ver com o meu gosto pessoal, que pode agradar a uns e desagradar a outros… Seria mais fácil questionarem, por exemplo, de todas elas que lá passaram, quais pretendo voltar a contratar… Poderei assim mandar alguns nomes que me ocorram… Phantom Vision, F.E.V.E.R, Secrecy, Bizarra Locomotiva, Artworx, Inhuman, Heavenwood, Why angels Fall, Process of Guilt, Hordes of Yore, Switchtense e muitas outras mais que certamente iremos voltar a trabalhar no futuro!

www.myspace.com/sidebbar
www.myspace.com/notredameproductions
carlos.notre@gmail.com
sideb.benavente@gmail.com

(Nota: esta entrevista foi elaborada e conduzida pelo pessoal que responde pelo nome de Cryptor Morbious Family e será igualmente publicada na fanzine ABRIGO DOS MALDITOS! - www.myspace.com/cryptormorbiousfamily)

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