A Danielle é uma boa amiga que vive no outro lado do Atlântico. Ela faz uma fanzine chamada Maria Sogna Tutte le Notti e felizmente acedeu ao meu convite para colaborar de uma forma criativa, quer neste blog, quer na minha própria fanzine que, querendo os deuses, deverá sair um destes dias.
Este pode ser considerado o seu debut, que eu profundamente agradeço, apesar da minha falha em ter acusado recebimento. No entanto, ele aqui fica no blog, antes de ver as suas palavras impressas junto de outras, naquele que será o primeiro número da Morde Essa Bolacha Fanzine:
Olá! Meu nome é Danielle, moro no Brasil (em São Paulo há dez anos) e tenho 28 anos. Conheci o Rui porque eu fazia um zine, o Paraphernalia, e ele entrou em contato comigo (felizmente, não temos a barreira da língua, apesar de eu estar na América do Sul e ele na Europa). Quando ele me escreveu, eu já não estava mais fazendo o Paraphernalia, e sim um novo zine chamado “Maria Sogna Tutte le Notti”, dedicado à bandas e zines de mulheres.
Algumas pessoas, como meu próprio companheiro, não acham essa uma boa idéia. Dizem que não deve haver qualquer noção de superioridade entre os sexos, e eu concordo com essa opinião. Não quero (e garanto que as feministas também não querem) ser melhor que nenhum homem, somente igualdade de direitos.
Outros amigos me questionam dizendo coisas como “Se você não é espancada dentro de casa, por que luta contra a violência doméstica?”. Porque, felizmente, sou uma pessoa solidária. Posso não apanhar de meu companheiro, mas quero que todas as mulheres do mundo (olha aí a Danielle utópica novamente...) possam viver sem apanhar simplesmente porque são mulheres e consideradas pelos trogloditas que nelas batem como seres inferiores.
Mas tudo isso só serviu para que você, que está lendo este texto, me conheça um pouco. Vou passar a escrever aqui sempre que possível e acho saudável o leitor estabelecer com quem está escrevendo um mínimo de “intimidade”.
Aqui no Brasil, temos um cara que faz um trabalho brilhante: a ANA – Agência de Notícias Anarquistas. Tenho a sorte e o prazer der receber os e-mails do Moésio quase que diariamente e ficar antenada com assuntos relacionados ao anarquismo, ao feminismo e a ecologia, por exemplo, numa base freqüente.
E há algum tempo recebi um e-mail sobre a “Ação de Denúncia contra as Empresas Dermopatéticas”, do coletivo feminista galego “Mulheres Transgredindo”. Nele, um resumo do que aconteceu e do que constava nos panfletos. No fim havia algumas questões, sobre as quais eu gostaria de dar meu ponto de vista a partir de agora.
A quem beneficiam os “conselhos” dados pela indústria de cosméticos e dietas?
Somente a elas mesmas. Elas já dão os “conselhos” esperando que você compre os produtos dela, ou seja, visando ao lucro. Ninguém é tão bonzinho que mande você comprar dezenas de cremes só para ficar bonita. Algum interesse oculto elas têm, pode ter certeza.
A quem lucra realmente com aquilo que podemos parecer?
Quem lucra é a indústria da beleza. Claro, junto com a indústria da dieta. Dessa indústria fazem parte médicos, a indústria farmacêutica etc. Até mesmo a indústria dos cartões de crédito, pois as mulheres precisam pagar os tratamentos e os produtos de beleza de alguma maneira, não é? É uma cadeia. Uma indústria ajuda a outra a nos sentirmos cada vez menos donas de nossas vidas e cada vez mais dependentes dela. Li, há algum tempo, que a única indústria que cresce no Brasil é a da beleza.
E quem, afinal, lucra com nossas vidas e nossos corpos?
Ora, o capitalismo. Se ficarmos preocupadas somente com a nossa “beleza” (ou melhor, a beleza que querem nos impor, não levando em conta a “beleza de verdade” que cada uma de nós possui e é interna), pensaremos menos em mudar o mundo, nas injustiças sociais.
Enquanto pensamos em “ficar bonitas”, não estaremos pensando no que realmente importa. E isso é o que eles querem.
Se alguém quiser trocar idéias ou receber o zine que faço, o “Maria Sogna Tutte le Notti”, escreva para doitherself@gmail.com ou para a Caixa Postal 4768 – São Paulo/SP – Brasil – 01061.970
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