Há dias assim...

Uma tarde de sábado de Outubro, alguma chuva, alguns trocos soltos pelos bolsos e um concerto hardcore onde ir. São já raros aqueles em que marco presença, esporádicos mesmo. Pensando bem, também nunca foram assim tantos quanto isso. Os trocos são cada vez menos, a vontade de me afastar da cercania de casa também escasseia por vezes. Mas desta vez resolvi libertar-me do meu ‘dolce far niente’ habitual e rumei em direcção à Academia de Linda-A-Velha.

Enquanto seguia o meu curso, sozinho no carro, dei comigo a pensar que esta seria a primeira vez que assistiria a um concerto na mítica Academia. Parece incrível, mas é a verdade. Em todos estes anos nunca ali tinha estado, a não ser para beber umas cervejas, uma vez que nos antecipámos a um concerto de Varukers e fomos para lá no dia anterior. Eh Eh! Que tolos...

Assim foi que me decidi a assistir a uma morte certa, Fight For Change, uma morte anunciada, New Winds e a um nascimento feliz e saudável, These Arms Are Fists.
Sinto-me bem enquanto assisto a estas bandas. Apesar de não conhecer todos os temas tão bem quanto os que me rodeiam, nem saber cantar mais do que uma ou duas frases. Isso não me impede de me sentir bem! Sozinho, entre os meus cigarros e as minhas cervejas, fico feliz quando vejo o ambiente que se respira à minha volta. A alegria, a energia. Gosto disto, como não gostar?

Sozinho, vou sorrindo ao aperceber-me de como as letras destas bandas fluem tão bem da boca de todos quantos estão em frente ao palco, em cima do palco, a saltar do palco! Não consigo evitar um sorriso maior quando ouço falar nos bons velhos tempos de 2000 e 2001, quando esses para mim são os de 1994 e 1995! Nessa altura apercebo-me como sou afortunado por ter tido a oportunidade de ver em palco e actividade alguns dos nomes que ajudaram o punk-hardcore português a chegar onde chegou, quer ele tenha chegado bem ou não. Apercebo-me também que os anos passam.

É com esse mesmo sentimento que tenho a fortuna de oferecer aos meus olhos e ouvidos os nomes que nesta tarde de Outubro passavam pelo palco da Academia. Tenho pena de assistir ao fim dos Fight For Change, mas as razões para esse fim devem ser demasiado fortes para serem refutadas. Tenho pena de saber que os New Winds estão em rota de colisão com o seu próprio suspiro final enquanto banda, apesar de todos sabermos em antemão que será difícil manter mentes criadoras afastadas por muito tempo e exemplo disso mesmo são os próprios These Hands Are Fists. Longa vida por isso.

Os sonhos são difíceis de matar e a alegria, mesmo escondida, faz-se sempre sentir de uma forma ou de outra. Para quem procura ambos, por vezes basta olhar para o lado e sorrir com outros sorrisos.