O
domingo gelado de Fevereiro convidava a ficar em casa, enrolado nos cobertores
da sala, com o sistema de entretenimento a debitar uma qualquer película
duvidosa e um chá quentinho em cima da mesa, para também aquecer de dentro para
fora! Mas a cabeça, a vontade e o destino da noite domingueira já estavam
determinados desde que a Xuxa Jurássica anunciou o regresso dos míticos MISFITS
a paragens lusitanas!
O
entusiasmo sentido em crescendo à medida que a hora se começava a aproximar era
mais que suficiente para fazer esquecer que na sua última passagem pelo nosso
país eu não os tinha ido ver, que nem Doyle nem Michael Graves fazem já parte
da formação da banda, que Jerry Only, apesar de ser uma lenda do punk, apesar do
seu empenho, vontade e presença de palco, não é grande coisa como vocalista
principal ou que a capacidade desta banda em conseguir compor e gravar bons
discos já viu muito melhores dias! Este tipo de pensamentos podia estar
presente na cabeça de muito boa gente, mas isso não impediu que o Cine-Teatro de Corroios
recebesse a banda de New Jersey com uma sala praticamente lotada! Afinal de
contas, estamos a falar de MISFITS, caramba!!
Depois
de um ligeiro atraso na abertura de portas, ninguém quis perder a oportunidade
de se refugiar do frio que se fazia sentir na rua, procurando também ocupar o
seu lugar na sala, entre as conversas habituais e as cervejas do costume,
enquanto se aguardava pelo início da música propriamente dita! Foi com sotaque
britânico que a acção de palco começou a acontecer, com a prestação dos BERETTA
SUICIDE, um nome imposto aos promotores nacionais apenas a alguns dias da data
do evento, eles que haviam já escolhido os nacionais PUNK SINATRA para estarem
aqui presentes! Talvez devido a esse detalhe ou simplesmente por estar uma
noite gelada e ser o início das actividades, a relação entre a banda e o
público manteve-se um pouco fria e houve pouca reacção ao trio oriundo de Leeds
(ed: a informação disponível no seu website menciona quatro elementos) que,
durante aproximadamente trinta minutos, apresentou os seus temas fortes e
ruidosos, com maior tendência para a toada rock e menor pendor para os
esperados exercícios acelerados, característicos do punk a que muitos estariam mais
habituados mas que, ainda assim, com maior ou menor atenção conseguida junto do
público, foram conseguindo apresentar alguns temas do seu EP auto-intitulado e lançado
quase no final do ano passado!
O
tempo de exercício chegou depois com os americanos JUICEHEAD, também eles um
trio, mas com maior sucesso no que diz respeito a conseguir uma resposta
positiva por parte de todos quantos estavam ali presentes! Num momento da sua
carreira em que promovem o disco “How to Sail a Sinking Ship”, lançado pela
Misfits Records, os nativos de Chicago mostraram excelente presença e à vontade
em palco, com enorme boa disposição, demonstrando também que o seu estilo de
punk-rock acelerado, melódico e cheio de ‘ganchos’ foi uma óptima aposta para
começar a trazer um pouco de festa, movimento e alegria aos corpos enregelados
cujo sangue ainda não tinha aquecido o suficiente, apesar de que, por esta
altura, a quantidade de público que preenchia a sala de Corroios já era mais
que suficiente para conseguir produzir bastante calor humano!
Quando
se começaram a ouvir os primeiros sons do tema que dá título ao mais recente
disco da longa carreira dos MISFITS, sabia-se que o momento de dar novamente as
boas vindas ao legado de 35 anos tinha finalmente chegado! Jerry Only, Dez
Cadena e Eric Arce tomaram conta do palco e arrancaram com os três primeiros
temas do novo album, ‘The Devil’s Rain’, ‘Vivid Red’ e ‘Land Of The Dead’!
Infelizmente para eles e para o público, também arrancaram os primeiros esgares
de sofrimento em algumas faces, dadas as proporções sofríveis que o som atingiu
neste ponto! Ao que parece, alguns ‘engenheiros’ de som ainda não compreenderam
que mais alto não é necessariamente bom! Mas deu-se o benefício da dúvida aos
‘engenheiros’ e o certo é que à medida que a actuação da banda foi decorrendo,
as condições foram melhorando!
Mas
a dúvida que subsistia, pelo menos na cabeça aqui deste vosso companheiro, era
saber que tipo de setlist poderíamos nós esperar esta noite a partir de um
arranque destes! Não foram necessários grandes exercícios de lógica para
compreender que a banda de Jerry Only, com um novo disco debaixo do braço e com
muita vontade de não ficar demasiado agarrada aos egos e glórias do passado,
debruçou-se bastante sobre os temas de “The Devil’s Rain” e quase correram o
risco de começar a perder a ligação com o público, não se tivesse dado o caso
de começarem a debitar alguns trunfos cá para fora, como se deu com o caso de ‘Static
Age’, ‘She’ ou ‘American Psycho’! Depois deste reacender do namoro, o concerto
dos veteranos seguiu um caminho mais equilibrado e animado, talvez mais ao
encontro daquilo que muitos dos presentes desejavam, com o desfilar de temas
como ‘Shining’, ‘Dig Up Her Bones’, ‘Scream’, ‘Halloween’, ‘We Are 138’ ou
‘Where Eagles Dare’, entre muitos outros, até chegarem ao momento final com ‘Die, Die,
My Darling’, uma verdadeira marca registada na história!
Escasso
em palavras com o público durante a duração do concerto, deixando apenas breves
apontamentos e a sempre presente contagem ‘one, two, three, four!!’, o mestre
de cerimónias, Jerry Only, rendeu-se a um jovem fan de onze anos, fazendo-o
subir ao palco e oferecendo-lhe o microfone para que pudesse cantar com os
MISFITS e com o público de Corroios!
Após
o final do concerto propriamente dito, Only subiu ao palco agradecendo a
presença de todos, não só naquela noite, mas também ao longo de uma carreira de
35 anos, comprometendo-se a passar mais alguns minutos juntamente com os fans,
assinando as suas coisas e tirando fotografias, com a condição de não fumarem
perto dele, ao que juntou ainda um pedido: “you gotta stop smoking so much,
geezz!!”
texto: Rui Marujo (@facebook)
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