quarta-feira, 3 de fevereiro de 2010

entrevista: UTOPIUM

Alguns já devem ter reparado nestes cinco amigos, em cima de algum palco, a devastar tudo à sua passagem com o seu universo para onde convergem os caminhos do grindcore ou do crust ou até mesmo do sludge, mas onde o denominador comum se apresenta como um reflexo de música extrema, óptimo ingrediente para exorcisar alguns demónios e afugentar muitos outros!
Ao primeiro sintoma de curiosidade, Rizzo (voz) e Tiago (guitarra), trataram de trazer algum esclarecimento a certas questões





(MeB) Vamos lá a pôr isto em pratos limpos: qual é a expressão que melhor pode ser empregue para definir a música que fazem? Utopium assumem-se grindcore, crustcore ou bujarda-filha-da-putice?
Tiago (T) Os Utopium formaram-se com intuito de tocar musica extrema onde a base de influências provinha de bandas de grindcore. Desde as bandas mais old school, como Napalm Death, Carcass, Brutal Truth, Discordance Axis, até às mid e new school como Nasum, Rotten Sound, Insect Warfare, Kill The Client, Mumakil, Pig Destroyer. Pelo caminho, e como os géneros andam um pouco de mão dada, começámos a acrescentar influências crust e sludge ao nosso som. “Bujarda-filha-da-putice” não me parece mau, mas sinceramente isso pode ficar ao critério de quem nos ouve, até metalcore já nos chamaram, por isso..!

Uma vez que a descarga vocal dos Utopium é de tal forma agressiva, torna-se um pouco complicado discernir a mensagem que existe agregada aos vossos temas! Pessoalmente não creio que falem sobre arco-íris e campos em flor, mas nada como o vosso esclarecimento para ficarmos a conhecer melhor o vosso universo: com quem é que vocês estão zangados?
Rizzo (R) Com tudo e todos, incluindo nós proprios. A verdade é que muito do conteúdo lírico provém de introspecções ou consciencializações perante um determinado tópico, sempre algo inerente à vivência em sociedade e os seus comportamentos anexos, seja pela perspectiva dum indivíduo ou simplesmente em narrativa. Pessoalmente não tenho tanto o pretensão de soar crítico, mas mais de criar cenários, uns mais reais outros mais hipotéticos, desde questões psicológicas a problemas sociológicos. Aliado a frequentes jogos de palavras e outras figuras não se torna de todo algo directo, antes de se levar a descortinar, fora o que fica nas entrelinhas.

Como é que se chega a uma banda como os Utopium? Quero dizer, qual foi a principal motivação para criar esta banda e o porquê da opção de a tornar tão extrema?
(T) Nós juntámo-nos tendo em vista tocar um género de música que gostamos, neste caso o grindcore, logo já sabiamos à partida que seria extremo. Com o passar do tempo, depois de ensaios, concertos e um certo crescimento dentro da banda, obviamente que há sempre aquele desejo de personalizar o nosso som, de lhe dar uma identidade própria. Sendo o grindcore um estilo de música muito “open minded” (quer as pessoas acreditem ou não), nunca descartámos a hipótese de incluir elementos diversificados nesse processo de personalização, como tem acontecido.



Como é que se compõe para uma banda como a vossa? Como é que são tomadas as decisões quando toca a escolher o caminho que um tema deve levar? É um processo consciente ou deixam que a criatividade vos leve até onde calhar?
(T) Normalmente um dos membros aparece com uma ideia, um riff, uma batida e partimos daí. Tentamos fazer as coisas de modo a que fiquemos satisfeitos com o produto final. Geralmente quando finalizamos uma música e a tocamos milhares de vezes, se olhamos uns para os outros e ficarmos “Whoa, esta música está do caralho!”, então siga, está feito! Pode haver alguns momentos (se calhar até muitos!) de improvisação, sobretudo quando são cenas mais lentas, em que simplesmente nos deixamo ir.

Que papel gostariam que a vossa música tivesse no ambiente que vos rodeia?
(R) Musicalmente pretendemos impor a nossa afirmação, algo que leve as pessoas a sentirem, tal como nos toca a nós; afinal é esse o papel libertador da música, a partilha de emoções e abertura de susceptibilidades. Que dê para transpor a fúria quando necessário, tanto quanto a compreensão. Quando alguém se identifica com o género, estilo, ideia, mensagem, tanto melhor.

São da opinião que vivemos num mundo de extremos ou acreditam no poder da moderação?
(R) Vou ter que concordar com ambas as partes, até pelo tão singelo exemplo do género que tocamos, com as influências que misturamos, e com a posição que tomamos: um estilo extremo, frenético, com toques do seu antagónico, lento, e no entanto equilibrado. De modo mais alargado, mesmo nós, o que implicamos na nossa música, como exemplo em palco, torna-se um meio de descarga. Em lato sensu, que os extremos existem, é certo, seja meramente de gostos a ideais, deve é persistir alguma mediação dos mesmos, ou como dizia o grego: no meio está a virtude.

Já tive oportunidade de vos ver ao vivo algumas vezes e uma característica que apreciei bastante é o facto da vossa entrega ser a mesma, quer toquem para um público escasso ou para uma multidão considerável! De onde vem toda essa motivação e energia? É fácil mantermo-nos motivados a fazer música como a vossa numa cena como a nossa?
(T) Tal como disse, e lá vem o cliché, os nossos primeiros fãs somos nós próprios. Tocamos e compomos musica que nos faça sentir satisfeitos! Acreditamos na mesma e sabemos que para nós ela tem algum valor. Obviamente quando chega a tocar ao vivo temos a nossa maneira de ser porque é o que ela nos faz sentir. Se estão 10 pessoas ou 100, paradas ou a mexerem-se, é-me indiferente, eu curto a música à mesma. Claro que é sempre bom receber uma resposta positiva do público nos concertos, a qual agradecemos, mas se o público não expressar entusiasmo não vamos ficar tipo estátuas em cima do palco, até porque a entrega de energia, para depois a receber de volta ciclicamente, deve partir da banda e não do público.

Quais são as maiores utopias na vossa vida?
(R) Remato com três: o conceito de verdadeira e derradeira satisfação pessoal, num sentido de plenitude; o sentido de integração e homogeneidade agregado a um critério de heterogeneidade; e, aquela que considero a base, a compreensão e aceitação humana pelo próximo.

A edição da vossa demo tratou-se de uma afirmação de presença ou o arranque para mais e melhor? Existem planos para dar continuidade àquela gravação?
(T) Essa demo tratou-se duma experiência, por assim dizer. Quando já tinhamos algum tempo de ensaio e algumas músicas, decidimos gravar um ensaio para ver como soaria. No final, como até ficámos surpreendidos com a gravação, mais tarde achámos uma boa ideia dar a conhecer assim algumas músicas, metendo-as para download e vendendo cópias nos nossos concertos. Claro que no futuro haverá mais e melhor! Gravámos este ano e editaremos no início do próximo o nosso EP de estreia, “Conceptive Prescience”, que conta com sete novos temas – um deles já colocado no MySpace. E duas das três músicas que constam na demo vão ser incluídas na proxima gravação, que iremos fazer durante o próximo ano.



Vocês contribuiram com uma versão do tema “My Philosophy” para um tributo a Nasum a ser lançado pela editora alemã Power-It-Up (juntamente com nomes como Misery Index, Leng Tch’e, The Arson Project ou Kill The Klient, entre muitos outros)! Como é que surgiu essa oportunidade? Que critério esteve por trás da escolha do tema que gravaram?
(T) Curiosamente a editora estava a aceitar alguns pedidos de bandas. Nós entrámos em contacto e eles aceitaram. Não houve nenhum critério propriamente dito, um dia a namorada do nosso baterista sugeriu-lhe fazermos essa cover, ele propôs-nos a ideia e fizemos. Como praticamente qualquer música desse album (Inhale/Exhale) é uma valente bujarda..!

Esse tributo tinha edição prevista para Novembro 2009! Há novidades acerca desse assunto?
(T) Sim, aliás, a editora já nos enviou toda a informação e já fizemos a nossa encomenda de cópias. Descobrimos, no entanto, que a versão que foi incluída é dum mix anterior que tínhamos feito e não a versão final que consta no MySpace, por isso é normal que esta última ainda apareça escondida algures..!

Será óbvio de perceber que são admiradores do trabalho de Nasum! Que outras bandas entram nos vossos ouvidos?
(T) Tanta coisa... Tirando as bandas que já referenciei diria Siege, Dropdead, Infest, Godflesh, Black Sun, Skytsystem, Trap Them, Magrudergrind, Terrorizer, Extortion, Swans, Killing Joke, Joy Division, Black Flag, Voivod, Iron Monkey, Charger, Eyehategod, Complete Failure, Wolfbrigade, Discharge, Extreme Noise Terror, Disfear, Converge, Gaza, Mastodon, High On Fire, Mindrot, Darkthrone, Shining, Hatred Surge, Unearthly Trance, Today Is The Day, His Hero Is Gone, Tragedy, Virus, Municipal Waste, D.R.I., Cursed, Breach, Faith No More, Neurosis, Isis, etc. De grind a powerviolence, crust, sludge, doom, black metal e sei lá mais o quê...

Tendo em conta que o universo grind-crust é rico em produzir colaborações e lançamentos em formato split, quais seriam para vocês as parcerias de sonho? Com quem é que os Utopium gostariam de partilhar uma gravação?
(T) Deixo o meu top 3:
1. Trap Them
2. Rotten Sound
3. Looking For An Answer


Antes de vos correr daqui para fora, algo mais que queiram acrescentar?
(Tiago) Nada de mais, agradeço o apoio da tua fanzine pelo nosso som.
(Rizzo) E quem nos lê, que fique atento ao muito que nos e vos aguarda!

www.myspace.com/utopiumgrind
utopiumgrind@gmail.com

1 comentário:

Anónimo disse...

uma das melhores bandas , alguns dos melhores musicos e amigos do momento... tiago, és o maior, manteigas tbm, jay vai cortar a gadelha (lol) , rizzo berras k nem um bebé irritante e jimmy..bates com força demais (eheh) , os melhores mm...sem duvida alguma

akele abraço!

F. @ APC